Esqueceram de Mim Também... Perdido em Miami! - Por Tati Colledan

A coluna da Tati Colledan está indo ao ar hoje (ao invés de segunda-feira) pois é um dia especial, afinal, é o aniversário da colunista!

A equipe Orlando+ deseja tudo de melhor para você, muitos e muitos momentos de felicidade, e que você esteja conosco por muito tempo compartilhando momentos de alegria, PARABÉNS!

Essa semana, vamos acompanhar uma história de quando ela era guia de grupos para Orlando. Ela teve que lidar com um problema que nem fazia parte de suas obrigações, mas que acabou fazendo ela colocar seu espírito solidário em prática. O que você faria nessa situação? Vale a pena acompanhar!


Durante os seis anos que trabalhei como Guia de Turismo, levando turistas brasileiros aos parques temáticos de Orlando, inúmeras foram as situações que aconteceram, das mais variadas naturezas... Malas extraviadas, passageiro doente, visitas à emergência do Sand Lake Hospital, problemas com a operação do grupo, enfim, situações para escrever dezenas de textos.

Mas, uma em especial, que vou relatar aqui, creio que pouquíssimos guias de turismo tenham enfrentado ao longo de suas incontáveis viagens à Orlando.

Era final de Julho, final de férias, final de temporada de verão e estávamos todos de malas prontas para voltar para casa. Estava no final do segundo grupo daquelas férias de verão, voltando para casa com 38 menores desacompanhados. Como de costume, havia chegado ao Aeroporto Internacional de Miami com várias horas de antecedência, e, por se tratar de grupo, nosso check-in coletivo estava feito, mesmo antes de abrir aos demais passageiros. Quem trabalhou na época dos vôos regulares da VASP para Miami (MD-11), deve se lembrar de algumas facilidades que eles ofereciam aos grupos grandes. Estávamos todos sentados, reunidos conversando, vendo fotos (elas eram em papel naquela época!!), tirando as "últimas fotos", mostrando presentes levados nas bagagens de mão, enfim, naquela euforia da volta para casa, depois de 15 dias em outro país. De repente, no meio daquela conversa toda, fui abordada por um menino de outro grupo, com a camiseta que deixava BEM claro a operadora da qual o grupo dele fazia parte, visivelmente assustado e chorando. Ele me perguntou se eu era brasileira, e respondi que sim. Ele estava tão assustado, que, mesmo eu dizendo que era brasileira, ele ainda me perguntou: "você fala português?", e eu, com um sorriso no rosto disse a ele que "estava falando" com ele em português. Perguntei o nome dele, ele disse e, em seguida, me perguntou se o vôo "X" da VASP já havia decolado. Olhei no relógio e disse a ele que aquele vôo havia deixado Miami há, pelo menos, uma hora. Nesse momento, ele levou as duas mãos ao rosto e começou a chorar ainda mais. Tirei o menino daquele lugar, sentei com ele, pedi a ele que se acalmasse, independente de qualquer coisa e perguntei o que havia acontecido. Ele me contou que se chamava Marcelo, estava num grupo daquela determinada operadora, e havia comunicado às guias da excursão à qual fazia parte, que iria ao banheiro. Segundo ele relatou, acabou se perdendo no aeroporto de Miami e seguiu a recomendação das guias, de ficar parado, que, assim que dessem pela falta, iriam ao encontro. Mas, ele havia ficado muito tempo parado, esperando por elas e, como não vieram, começou a andar pelo aeroporto, se perdeu completamente, e eu era a primeira guia brasielira que ele havia encontrado desde que se perdera do grupo dele. Perguntei a ele se estava com seus documentos e cartão de embarque, e ele disse que sim, mostrando os mesmos para mim na mesma hora. Então, abri um sorriso enorme e disse a ele: "Que maravilha!!! Que ótimo que está tudo com você!!!". Ele só me olhava, sem entender muita coisa e respondeu-me: "Isso é bom??" e eu disse a ele: "Claro que é! É ótimo!!! Agora você irá embora comigo!! Meu nome é Tatiana e à partir de agora, sou sua guia e vou levar você de volta ao Brasil!".

Pedi à minha auxiliar que ficasse com o grupo e esperasse por mim ali mesmo, sem sair para lugar nenhum, que eu iria até à VASP resolver um probleminha e logo estaria de volta! Peguei o Marcelo e fomos ao balcão da VASP. Pedi ao atendente do check-in que chamasse o gerente, pois tinha um assunto de extrema seriedade para resolver com ele. O gerente chegou, expus a ele em rápidas palavras a situação do Marcelo e fomos levados ao escritório da empresa. Ele disse que não se conformava com aquilo, que não tinha cabimento, etc., etc., etc... Falei para ele que, como dizia o antigo ditado, "nada adiantaria chorar pelo leite derramado", pois já havia acontecido, nós tínhamos uma criança esquecida em Miami, que precisava voltar para casa, e um grupo com uma guia e uma auxiliar brasileiras, que seguiriam para São Paulo no próximo vôo da empresa, e, visto aquele menino ter encontrado comigo, a missao de trazê-lo de volta para o Brasil seria minha. O gerente me respondeu que as coisas não seriam assim tão fáceis, visto, antes de qualquer coisa, o vôo estar lotado. Expliquei a ele que muito mais fácil, seria a VASP oferecer a algum passageiro que estivesse viajando sozinho, algum benefício por ficar um dia a mais em Miami, do que deixar uma criança de 12 anos lá nessas condições. Depois de muita conversa entre nós, e muito diálogo com passageiros do próximo voo, um gentil senhor, comovido com a situação do menino (que a essa altura, dizia insistentemente, ao gerente da VASP que só voltaria para casa comigo!!!), se dispôs a ceder o lugar dele no voo para que o Marcelo pudesse, finalmente, retornar comigo naquela noite. Resolvida essa parte, foi feito um documento especial, assinado pelo comandante daquele voo, a chefe dos comissários, o gerente da VASP e eu, todos responsáveis pela volta segura daquela criança, esquecida por duas guias de turismo, no Aeroporto Internacional de Miami.

Agora, com tudo em ordem, só faltava mesmo, ligar para os pais do Marcelo, comunicar o ocorrido e avisar que ele chegaria a São Paulo 4 horas depois do grupo "original" dele. Pedimos a ele que ligasse para a mãe e depois nós conversaríamos com ela. À essa altura, o menino estava tranquilo e totalmente despreocupado, como um adolescente da idade dele. A mãe atendeu e ele, de maneira bem objetiva, disse a ela: "(...) não, mãe, não estou ainda voando não, porque as minhas guias me esqueceram aqui no aeroporto de Miami, eu me perdi, mas, agora encontrei outra guia muito legal, a Tati, de outra agência, que vai me levar para São Paulo junto com o grupo dela, tá!?! Ela vai falar com você! Um beijo!". E viva a objetividade e praticidade dos adolescentes, não é mesmo!?! Perguntei a ele o nome dela e, quando disse ao telefone: "Dona Rosa, boa noite", uma voz extremamente trêmula, do outro lado, me respondeu: "por favor, quem é você? O que está acontecendo? Onde está o meu filho?"... Me apresentei, conversei com ela, expliquei tudo o que havia acontecido, como o filho dela havia me encontrado, o que nós tínhamos feio para ele voltar comigo, enfim, contei tudo. Pedi a ela que anotasse algumas informações, até para que ela se sentisse um pouco mais segura e tranquila, e dei a ela todas as informações a meu respeito, como nome, agência para a qual trabalhava, nome e telefones da agência, da minha coordenadora de grupos, telefone da minha casa, dados do novo voo do filho, telefones da VASP em Miami, enfim, tudo o que julgava necessário ela ter em mãos, passei para ela. Ao terminar, perguntei se ela tinha alguma dúvida, se queria perguntar alguma coisa, se não havia entendido alguma coisa, enfim, ela apenas me disse: "Eu vou processar a operadora e as guias!". Falei para ela não pensar em nada daquilo, que o que importava mesmo, naquele momento, era que o Marcelo estava bem, que ele havia encontrado alguém que "falava a língua dele" e estava o ajudando a voltar para casa, e que eu cuidaria do filho dela, como se fosse meu. E pedi a ela que tivesse um pouco de paciência no desembarque em São Paulo, pois o menino só sairia para fora junto comigo, e eu seria sempre a última a sair, depois que todo o meu grupo já tivesse desembarcado. Ela, chorando muito, me disse, antes de desligarmos o telefone: "Tatiana, por favor, não deixe meu filho sozinho, cuide dele por mim...". Falei a ela para ficar tranquila e totalmente despreocupada, porque, entre outras"qualidades", eu era conhecida como a "guia neura", que nunca parava de contar, fazer chamadas e jamais havia perdido alguém. Desliguei o telefone e voltei para o meu grupo. Ao chegar ao local onde minha turma estava reunida, encontrei diversos pares de olhos arregalados, olhando para mim com ares de preocupação. Perguntei porque razão me olhavam daquela maneira, disse que estava tudo bem e que o grupo deles era tão especial, que acabava de ganhar um novo membro, ainda que nas últimas horas. Apresentei o Marcelo ao grupo e pedi que todos o acolhessem, com o mesmo carinho que haviam acolhido uns aos outros durante os quinze dias de viagem, e que eles todos, à partir daquele momento, eram responsáveis por tirar da mente do Marcelo os momentos difíceis que ele havia passado naquele dia, e garantir um final de viagem mágico a ele, como convinha terminar uma encantadora viagem à Disney. Todos abraçaram o menino e, em pouquíssimos minutos, o Marcelo estava totalmente integrado ao meu grupo.

Chegamos em São Paulo no horário previsto e, depois de quase duas horas, saí com o Marcelo, que estava sendo aguardado com muita ansiedade pelos pais e mais alguns familiares. Todos abraçaram o menino com muito carinho e aquela sensação maravilhosa e indescritível de "alívio" e, em seguida, os pais dele me abraçaram e agradeceram por ter cuidado do filho deles e tê-lo trazido em segurança para junto deles novamente. Disse a eles que, embora a situação, de início, havia sido grave e bastante preocupante, havia sido um prazer conhecer um menino tão simpático, agradável e educado como o filho deles. Disse a eles que haviam feito um excelente trabalho na educação do Marcelo, porque ele, realmente, era um menino muito especial, e que não havia o que agradecer, porque eu tinha certeza que, no meu lugar, eles teriam feito o mesmo que eu para acalmar e proteger uma criança assustada, que estava perdida em outro país. Não se mede esforços para conseguir isso, não é mesmo!?!

Esse episódio em Miami, na época, rendeu muita conversa e aprendizado para outros guias e auxiliares de guias Disney.

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6 comentários:

  1. Chorei litros aqui. Que história linda...

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  2. Como sempre, só posso te dar os parabéns, por ser essa pessoa maravilhosa Tati. Você é muito especial. Adorei seu relato e todo o desenrolar. Parabéns de novo.Emerson.

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  3. parabens minha querida amiga.
    desejo todo sucesso p vc
    bjs em seu coração

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  4. Tatiana, você é realmente uma pessoa iluminada por Deus e cheia de amor ao próximo, é pena não estar mais no grupo de Guias em Orlando! São pessoas como vc que fazem toda a diferença! Amo vc amiga! Chorei em ler suas palavras...Deus te abençoe sempre, garanto que o Marcelo jamais esquecerá do anjo Tati! beijão Adriana Pavan

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  5. Tati, me emocionei com esta história, ainda mais você sendo amiga d aminha irma. E caráter ímpar. Parabéns! Porque me coloquei no lugar desta mãe desesperada aqui no Brasil, na época. Sem palavras.

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  6. Fico feliz que estejam gostando da coluna e das histórias... Na verdade, com tantos anos de trabalho dedicados à Disney, daria para escrever quase um livro...
    Logo mais outras estarão aqui no Orlando+ para vocês!!
    Um beijão, com carinho a todos!!!

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