Um drama na imigração americana - por Tati Colledan

Quando fazemos a imigração ao chegar nos Estados Unidos passamos por momentos de tensão, afinal, é ali que decidem se podemos ou não entrar no país.

Na coluna dessa semana, nossa colunista vai contar um caso verídico de algo que aconteceu na imigração, inclusive a famosa "salinha", não deixem de acompanhar. Tati, é com você!

Em 1996, quando trabalhava como guia de turismo na Disney, vivíamos um tempo aqui no Brasil de grande dificuldade para se obter um visto americano. Na verdade, naquela época, o Consulado Americano de São Paulo, localizado no bairro dos Jardins, não dava conta de atender a enorme demanda de solicitações de visto, e filas gigantescas se formavam do lado de fora do prédio, subindo da Rua Padre João Manoel e seguindo pela Alameda Lorena. Muitas vezes, enfrentávamos essa fila enorme sem garantias de sermos atendidos, pois havia horário limite para entrar. Depois, com o passar do tempo, foi tomada outra atitude frente ao número sempre crescente de pessoas aplicando para os vistos americanos, com distribuição de senhas em outro ponto da cidade, ao lado do Parque Trianon, região da Av. Paulista, que também não durou muito tempo, pois devido ao limite diário de senhas disponíveis, uma multidão passava a noite na fila, na esperança de conseguir a senha, criando algumas situações aos moradores da região que, como os comerciantes da região dos Jardins, se incomodaram com as grandes filas e tumultos causados pelas pessoas. 

Naquele tempo, existiam despachantes credenciados pelo Consulado Americano, que faziam o trabalho de solicitação de vistos. A pessoa pagava pelo serviço e comparecia ao consulado apenas caso fosse chamado para entrevista. Era muito comum também naquela época, ver uma espécie de “atravessadores” ou “cambistas”, que por incrível que possa parecer, vendiam “lugares na fila”, taxas consulares do Citibank com um valor maior do que o pago nas agências do banco e até mesmo se oferecendo para fazer o serviço de um despachante, coletando TODOS os documentos das pessoas, com a promessa de envio de tudo, incluindo o passaporte com o devido visto impresso no documento. Essas pessoas se apresentavam com cartões de visita e faziam até “recibos” dos documentos coletados... Cenas impressionantes mesmo, que eu mesma presenciei por duas vezes.

Em Julho deste mesmo ano, saí com um grupo no começo do mês para a Disney. Tudo preparado, reunião feita com os passageiros antes do embarque, tudo “aparentemente” perfeito. Seguimos para Miami e como de costume, dividi meu grupo em duas filas na imigração, orientada pelos próprios funcionários da imigração, para facilitar a comunicação durante as perguntas básicas de sempre. Estava numa fila e minha auxiliar na outra, quando fui chamada por ela para auxiliar em “algo” que estava acontecendo daquele lado. Trocamos de fila e logo que cheguei, o oficial me perguntou se eu já havia feito a imigração. Expliquei que sim e ele muito educadamente, pediu meu passaporte. Ele virou o monitor para mim e pediu que eu prestasse atenção. Ao colocar meu visto naquela espécie de scanner, apareceram todas as minhas informações pessoais, entradas e saídas no país, enfim, meu histórico em relação àquela nação. Retirou dali, devolveu o passaporte e pediu que novamente prestasse atenção. Colocou o passaporte da Adriana, passageira do meu grupo e, assim que o visto foi colocado naquela "máquina”, a tela ficou inteirinha preta, sem qualquer informação. Ele, então, olhou para mim e disse: “Este visto é falso!”. Um gelo me tomou dos pés à cabeça e aí as perguntas começaram. A menina não falava inglês, e fui traduzindo essa “fase inicial” do problema. Ele perguntou onde o visto havia sido tirado, e a menina dizia que tinha sido no Consulado Americano de São Paulo. Ele questionou sobre o meu, onde havia sido emitido e disse que também em São Paulo. Ele, novamente, mostrou a ela a diferença entre os dois vistos, “teoricamente” emitidos no mesmo consulado em São Paulo. O oficial chamou uma outra pessoa que nos pediu que o acompanhasse até a “temida” salinha da imigração, para podermos esclarecer o que estava acontecendo.

Pedi a ele um minuto para comunicar minha auxiliar, pedi a ela apenas que acompanhasse o grupo todo com o processo da alfândega e aguardasse por mim do lado de fora, com todos juntos. Seguimos para a salinha e a menina, por incrível que parecesse, mostrava-se calma, confiante de que estava apenas acontecendo algum equívoco ou mau-entendido. Chegamos lá e dois outros oficiais, juntamente ao agente que nos tinha levado à “salinha”, começaram a fazer perguntas. Eles, de imediato, disseram a ela que era impossível o visto dela ter sido emitido no escritório de São Paulo, visto a tela aparecer preta e o meu, emitido no mesmo consulado, mostrar todas as informações. Inúmeras foram as perguntas feitas, até que chegaram à crucial: eles questionaram se tinha tido ajuda de “terceiros” para conseguir o visto. Eu, nessa hora, só ouvia a tudo, pois tinham designado um intérprete para que nenhuma dúvida permanecesse ou conflito de informações e compreensão surgisse. Quando ela começou a falar, meu queixo caiu no chão! Ela disse que quando estava na fila, apareceu um desses “despachantes” que descrevi acima, com cartões de visita, identificação e tudo o mais, e ela entregou toda a documentação para ele. Realmente, a documentação toda, incluindo o passaporte com o “visto”, voltou antes ainda do tempo determinado pelo “profissional”. Eles disseram que despachantes credenciados jamais fariam isso e nesta hora, me pus a falar e contei a eles, o que estava acontecendo por aqui naquela época. Eles disseram que tinham ciência desses casos, que não ocorriam apenas nas proximidades do consulado em São Paulo, mas, em diversos outros escritórios do Brasil. Perguntei a eles como seria resolvida aquela questão e eles foram claros e objetivos: “Ela será deportada!” Explicaram que entendiam a ingenuidade dela, que sabiam da existência dessas pessoas que agiam nas imediações dos consulados americanos no Brasil, mas, o país não admitia a entrada de alguém com visto falsificado e ela seria deportada, retornando ao Brasil no primeiro vôo. Pedi a eles autorização para ligar para o nosso escritório em Miami e perguntei se eles queriam nosso gerente lá, pois eu não teria como ficar no aeroporto, visto ter um grupo inteiro sob minha responsabilidade do lado de fora do aeroporto. Chamei nosso gerente e assim que ele chegou, pude retornar ao grupo e seguir nossa viagem para Orlando. 

Algumas coisas que aprendi nesta triste experiência e que sempre usei como esclarecimento e orientação a diversas pessoas que viajam aos Estados Unidos: siga ao guichê da imigração APENAS quando for chamado. Responda a todas as perguntas com tranquilidade. Se começarem a fazer muitas perguntas, mantenha a calma, responda APENAS o que for perguntado, com verdade, para não cair em qualquer contradição. Não faça qualquer tipo de “piadas”, pois os cidadãos americanos não gostam disso, principalmente os agentes da imigração e alfândega. Se houver necessidade de uma segunda entrevista, na famosa “salinha da imigração”, não pense nisso como uma possibilidade de deportação. Mantenha a calma e não havendo situações como a descrita acima ou semelhantes e nada a esconder, certamente, a sua entrada no país será liberada.

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7 comentários:

  1. Caso típico de atravessadores no Brasil. Às vezes, por esperteza ou inocência, a pessoa entra nessa. Infelizmente, a maior parte cai nesse conto porque acredita sair favorecido. É o jeitinho brasileiro sendo ferrado pelo jeitinho brasileiro.

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  2. A garota quis dar uma de malandra, espertinha e se ferrou!

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  3. É o jeitinho brasileiro sendo ferrado pela seriedade e responsabilidade norte-americana.Brasileiro não larga essa mania infantil de querer tirar vantagem e ser "ixperto".

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  4. BEM FEITO...é a famosa 'lei de Gerson' , que não existe lá e nem em lugar algum do mundo civilizado.

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  5. É muito importante manter a calma mesmo. Um amigo meu foi levado para a sala e ficou lá por uns 30 minutos, sem ninguém falar nada com ele. Ele permaneceu calmo e, no final, era só um caso de homonímia, que eles acharam suspeito.
    Acho que o silêncio de 30 minutos foi pra ver se ele ia "quebrar" e confessar alguma coisa.

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  6. Tati, boa tarde quais as perguntas que eles fazem na alfândega, e é em inglês?

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    1. Oi, Letícia! Tudo bem?
      As perguntas na imigração americana são basicamente sempre as mesmas: quanto tempo você vai ficar no país, onde vai ficar, se tem parentes e/ou amigos, o que você faz aqui no Brasil, enfim, essas coisas. O mais importante de tudo é mostrar firmeza nas respostas e manter a calma, como ainda mencionou acima o Moisés. Caso haja necessidade, em todas as imigrações nos EUA, existem intérpretes de diversos idiomas. É muito comum quando se está numa fila de imigração, ouvir pelos auto-falantes, ser anunciada a necessidade de um intérprete de "tal" idioma, no guiché número "tal". Mas, na maioria esmagadora das vezes, esse trâmite de imigração é muito tranquilo...
      Um beijão!

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