Um bebê nos "Achados e Perdidos" do Magic Kingdom - por Tati Colledan

Essa semana na coluna da Tati Colledan teremos mais um caso verídico da época em que ela trabalhou como cast member de um parque da Disney. 

Já pensou alguém "esquecer", ou "perder" um bebê no parque? Impossível? Pois hoje vamos acompanhar essa história e saber como tudo aconteceu. Tati, é com você!

Com o grande número de guests todos os dias dentro dos parques do Walt Disney World Resort, fica relativamente fácil imaginar a quantidade incrível de objetos esquecidos e perdidos diariamente em todos os parques. Não apenas dentro dos parques, das antigas “catracas” para dentro, mas, desde o estacionamento mesmo. Só para se ter uma ideia, o estacionamento do Magic Kingdom, possui 125 acres, comportando mais de doze mil veículos. Partindo do estacionamento, não é difícil de imaginar o “rastro” de objetos que ficam perdidos, para trás, quando os guests deixam os parques.

Alguns dados curiosos sobre os “achados e perdidos” dos parques mostram que, em média, 100 pessoas perdem ou esquecem os óculos de sol todos os dias em todos os parques. Para se ter uma ideia “melhor” dessa parte, só o Magic Kingdom já recebeu quase 1.100.000 objetos diferentes no setor de “Lost & Found”. Entre a infinidade de peças que são perdidas pelo parque, já chegou ao setor uma “dentadura” e até mesmo uma prótese de olho, mais popularmente conhecido como “olho de vidro”.

Todas as noites quando o parque fecha, os cast members responsáveis por encerrar as atividades naquele dia, ao desligar completamente a atração, fazem uma “ronda” por toda a extensão da atração para verificar se tudo está em ordem e, é claro, recolher as inúmeras peças que caem e ficam perdidas durante o “passeio”. Todos os itens encontrados são separados e etiquetados, um a um, com a data em que foram encontrados e o local (no caso do Magic Kingdom, onde trabalhei, por exemplo, são etiquetados com o nome da “land” onde foram encontrados) e, em seguida, são todos enviados ao Lost & Found na entrada do parque. 

Depois dos óculos de sol, sem a menor sombra de dúvidas, um dos objetos mais deixados nos parques são os carrinhos de bebê. Quando o parque fecha, eles são recolhidos de TODOS os lados, nas entradas de TODAS as atrações, restaurantes e lojas. Carrinhos alugados no próprio parque e uma infinidade de carrinhos de passeio trazidos ao parque pelos próprios guests são deixados para trás ao final de um dia de diversão. Os carrinhos do parque são encaminhados ao setor de aluguel de strollers na entrada do parque e os demais também são etiquetados e encaminhados ao setor de “Achados e Perdidos”. Junto aos carrinhos, são esquecidas bolsas, câmeras fotográficas, refrigerantes, brinquedos, carteiras com documentos, cartões de crédito e dinheiro e uma série de outras coisas. 

Um dos “achados” mais incríveis que já aconteceu no Magic Kingdom, chegou pelas minhas mãos. Naquela noite de Julho, estava responsável por fechar a atração "It’s a Small World", em Fantasyland, e como de costume, começava a ronda de dentro da atração para fora, terminando na área das filas, onde ficam os carrinhos de bebê. Separei os do parque para um lado e comecei a recolher os “particulares” para outro lado. Antes que terminasse de recolher esses últimos, cheguei a um carrinho e ao colocar as mãos nele para puxar, “gelei” dos pés à cabeça. Tinha uma bolsa, provavelmente com roupas e coisinhas de bebê dentro e, para a minha total surpresa, tinha UM BEBÊ DORMINDO NELE! Isso mesmo, você não leu errado... Havia um bebezinho dormindo no carrinho... Um menino de aproximadamente uns 6 meses, lindo, dormindo bem quietinho no carrinho. Em alguns segundos, um milhão de coisas passaram na minha mente, mas, a primeira delas, era a que eu tinha que encontrar os pais dele e até lá, eu cuidaria dele. Empurrei o carrinho com cuidado, sempre comigo, e pedi a um colega que estava fechando a atração Peter Pan’s Flight, logo em frente, que chamasse com urgência nosso manager de plantão aquela noite, para que viesse até o It’s a Small World o mais rápido possível. Quando ele chegou, mostrei o “achado” e ele me pediu que não largasse aquele carrinho em hipótese alguma, pois como eu tinha sido a cast member a encontrá-lo, eu deveria ficar com ele até que os pais fossem localizados. Um outro colega foi designado para concluir meu trabalho de fechamento da atração enquanto eu fiquei de “baby-sitter” do pequeno “Andy”. A segurança foi chamada, vieram até onde estávamos e, novamente, recebi a mesma orientação que já havia recebido do meu manager, ou seja, deveria ficar com o bebê até que os pais chegassem. O bebê, por incrível que pudesse parecer, só dormia... Não acordou, não viu nada, não chorou... NADA mesmo... apenas dormia... Cerca de 15 minutos depois que a segurança chegou até onde estávamos, os pais do pequeno Andy foram localizados próximo à Space Mountain, em Tomorrowland. Estavam aflitos procurando por onde poderiam ter “perdido” o bebê. Chegaram até onde estávamos com o filho deles e a mãe chorou muito quando viu que tinha alguém cuidando do bebezinho dela e que ele estava seguro, dormindo tranquilo e em paz. Falavam sem parar, todos queriam falar ao mesmo tempo, tentando entender e explicar como tinham sido capazes de “esquecer” o próprio filho na saída da atração.

A história do “bebê nos achados e perdidos de Fantasyland” rendeu dias de conversas e brincadeiras entre managers e cast members. Algumas noites, pegavam um dos strollers esquecidos nas atrações, enchiam com outras coisas dentro, cobriam e falavam: “Chamem a Tati, a baby-sitter oficial de Fantasyland”...

A agilidade, competência e profissionalismo dos funcionários do departamento de segurança dos parques da Disney, sem a menor margem de dúvidas, foi uma das coisas que mais me impressionou no tempo que trabalhei lá como cast member. A área é muito ampla, mas, em qualquer que seja a situação, eles são precisos, eficientíssimos e muito profissionais. Lidam com qualquer situação de emergência com extrema naturalidade e jogo de cintura. E ensinam a nós, cast members, independente da área de trabalho, a lidar da melhor maneira possível, com a questão das crianças que se perdem dos pais dentro do parque. A eles, meu extremo respeito e gratidão por tudo o que me ensinaram e pelo trabalho brilhante que realizam todos os dias.