Cast Member Natasha Medeiros (Merchandise) - Entrevista

A entrevistada dessa semana, Natasha Medeiros, trabalhou como cast member na Disney na função de Merchandise e aceitou compartilhar com os leitores do Orlando+ um pouco de como foi essa experiência.

Não deixe de conferir!

Seja bem vinda, gostaria de agradecer em nome do Orlando+ por aceitar participar dessa entrevista. Teremos como assunto principal sua experiência em um CEP.

Conte um pouco sobre você e como foi sua experiência como Cast Member:

Oi gente! Meu nome é Natasha Medeiros, tenho 20 anos e estudo psicologia. Fazer o CEP foi a melhor escolha da minha vida e, mesmo se eu pudesse escrever um livro, ainda não conseguiria explicar o quanto essa experiência foi maravilhosa.

Como surgiu o desejo de se tornar um Cast Member?

Em 2008 eu estava na 8 série e um dia, na aula de informática, minha melhor amiga me falou que uma prima dela estava indo trabalhar na Disney. Na época a gente nem tinha noção direito do que seria ou como seria o trabalho, mas, como sempre fomos Disney Freaks, a ideia parecia um sonho. Prometemos uma pra outra que iríamos juntas quando entrássemos na faculdade. Anos depois estávamos na faculdade e cumprimos nossa promessa.

Como foi o processo de seleção?

Longo hahaha Fiz tudo junto com minha amiga, então foi ótimo sempre ter alguém que entendia minhas ansiedades e que estava lá, participando comigo em todas as fases. No meu ano (14/15) teve palestra da primeira fase em Fortaleza, o que foi ótimo. Eu e ela fizemos a primeira entrevista juntas e foi ótimo porque nos completamos o tempo todo. Parecia que era entrevista pra uma pessoa. No fim pudemos discutir tudo o que dissemos e quase morrer de ansiedade juntas.

A segunda fase foi em São Paulo e foi maravilhoso conhecer outros antigos e futuros cast members durante o final de semana das entrevistas. 

O último passo foi Recife pra tirar o visto. Ai já estava mais tranquila e a ansiedade era muito mais “chega logo por favor” do que “ai meu Deus, se eu não passar”. Resolvemos fazer nosso grace period (o visto dá direito a passar até 30 dias nos EUA fora do tempo do programa) antes e passamos o grosso da ansiedade curtindo Nova York. Depois é tudo histórias de Disney.

Quais funções você desempenhava?

Eu trabalhava em Merchandise na Main Street East, Magic Kingdom. 

Então por partes. Merchandise é a role (função) que trabalha nas lojas e quiosques, basicamente tudo relacionado com venda de produtos Disney. Como merchan eu tinha 3 posições específicas dentro das lojas. Podia ser Register, que é quando eu trabalhava nos caixas. A gente lidava com dinheiro, tinha que saber embrulhar algumas das mercadorias, conhecer o inventário da loja e conhecer o parque, porque a gente respondia muitas dúvidas e dava mil dicas pros guests. A segunda posição era de Greeter, que era quando a gente ficava pela loja ou na porta da loja dando boas vindas pros guests, respondendo perguntas, conversando, fazendo eles se sentirem bem vindos em geral. A Disney não se foca em vender produtos, nós vendemos experiência, inclusive quando vendemos produto a gente tenta fazer com que elas sejam lembranças especiais do momento deles lá. A última position é a de Stock, que é quando nós trabalhávamos mais no backstage, estocando a loja, tendo certeza de que todos os caixas estão estocadas, que todas as prateleiras estejam cheias e organizadas e que toda a loja esteja bonita e “show ready”.

Todos os parques da Disney são lindos sim, mas o Magic Kingdom é o parque central. Pode não ser o seu favorito, mas ele é o que vem a mente quando você pensa em Disney, não tem como. Por causa disso, nossos chefes sempre nos lembravam dessa responsabilidade, além de que você TEM que gostar de criança pra dar conta de trabalhar lá. Virei especialista em fazer criança parar de chorar.

A Main Street é a entrada do MK, a única parte do parque em que todo guest TEM que passar pelo menos duas vezes. A área é dividida entre a Main Street West (MSW) e a Main Street East (MSE). A MSW é só uma loja, a Emporium, que é a maior loja do MK. A MSE é um conjunto de 5 lojas e 2 carts. 

Os carts eram o West Train Cart e o East Train Cart, eles ficavam do lado dos dois vãos de entrada no parque, vendiam chapéus com orelhas do Mickey, tiaras, livros de autógrafos e coisas bem básicas. A Curtain Call Collectibles (CCC) era a loja onde você saia quando conhecia o Mickey ou a Tinker Bell no Town Square Theater, vendendo produtos dos dois, das princesas e da turma do Mickey, tendo também uma área de bordar chapéus. O Box Office é o lugar onde os fotógrafos do Photopass “vendiam” as fotos tiradas nos parques para os guests e nós processávamos as transações, também vendendo Memory Cards e Magic Bands. A The Chapeau era a loja principal de chapéus no MK, assim como na CCC bordávamos chapéus lá. A Uptown Jewelry vendia bolsas de marca (Dooney and Burke, por exemplo), óculos de marca (Ray Ban, por exemplo) e Pandora (os exclusivos dos parques da Disney, os inspirados na Disney e outros aleatórios da Pandora) e relógios da Disney, os quais aprendíamos a ajustar o tamanho. A última loja era a mais diferente, a Confectionery. Era diferente porque lá nós lidávamos parcialmente com comida, apesar de ser uma área de merchandise. Tínhamos que ter um treinamento especial de segurança alimentar e lá vendíamos artigos de cozinha (canecas, panos de prato, saleiro e pimenteiro, pratos, copos...), doces, rice crispy treats (um doce típico americano) e maçãs caramelizadas, também éramos treinados para operar a máquina de algodão doce.

As minhas atribuições específicas como alguém que trabalhava na MSE eram essas que já mencionei por cima. A primeira era bordar chapéu. Nós só tínhamos que aprender a operar a máquina, então era tranquilo no geral, o difícil era a máquina que sempre quebrava e a gente tinha que re-ajustar e explicar pros guests todas as opções de bordados e porque a gente não podia colocar “Harry Potter” ou “Big Ol' Mama” nos chapéus deles. A segunda era ajustar tamanho de relógio, nós podíamos tanto aumentar quanto diminuir a pulseira da maioria dos relógios. Sinceramente só fiz isso uma vez fora do treinamento porque juro que nunca aprendi a fazer direito. 

As duas últimas são relacionadas com a Confectionery. A primeira sendo a produção de algodão doce, que era super divertido de fazer. A gente podia dar amostras grátis pra guests especiais (que interagiram com a gente de um jeito diferente, que estavam fazendo aniversário, etc..). Só era difícil fazer tudo que tinha que fazer lá dentro, seguindo todos os procedimentos de segurança e dobrar o algodão do jeito certo. Mas o tempo passava voando. Essa coisa do tempo também acontecia na última posição específica que eu ocupava: Caseline. Na Confec tinha uma case de vidro, onde ficavam doces, maçãs e tal. O guest ia até a caseline, escolhia o que ele queria e a gente tinha que pegar lá (com luvas, lavando a mão em intervalos regulares, utilizando os plásticos e saquinhos corretos, pra garantir que tudo estivesse 100% seguro) e entregar pra ele. Também tínhamos que cortar as maçãs se assim o guest quisesse. No caso da caseline também podíamos ser estoque dela especificamente, que se resumia a correr loucamente entre a cozinha do backstage e a área onstage, colocando coisas nas gavetas e na própria case, garantindo que ela estivesse sempre estocada e bonitinha.

Em resumo, como era o seu dia a dia? (horário em que acordava, horário de trabalho, o que fazia, retorno, etc)

Eu trabalhava no Magic Kingdom, o que significava que sempre fechava o parque. E também trabalhava na Main Street, que fecha sempre uma hora depois do parque, ou seja, se eu tivesse passado mais tempo trabalhando lá tinha finalizado minha transformação de vampira.

Eu tinha dois dias de folga (terça e quarta sempre). Nos dias de trabalho eu normalmente começava entre 15:30 e 17h e saia de lá entre 1 e 3 da manhã. Chegava em casa umas 4 horas da manhã e, como funciono melhor a noite mesmo, era quando ia cozinhar pra semana, lavar roupa, ficar no computador. Ia dormir por volta de 6/7h, dependendo do cansaço. Tinham semanas que estava mais cansada, ai já acordava só pra trabalhar (normalmente duas horas antes do shift, pra dar tempo de me arrumar, pegar o ônibus pro MK, pegar o ônibus interno pros túneis e andar até minha location). Quando estava mais relaxada eu acordava 10/11h da manhã e ia pra algum parque, pro supermercado ou passar e comprar na outlet, que era dez minutinhos lá de casa.

Normalmente minha jornada de trabalho era de 8 horas e meia, mas cheguei a ter shifts de 6 horas e de 14 horas. E normalmente tinha 40 horas semanais já no meu horário. Como minha location era muito lotada e eu sempre trabalhava a noite era tranquilo de estender o horário (trabalhar mais horas no dia), pegar, trocar e doar shifts também.

Nos dias off dependia do meu nível de cansaço também. As vezes escolhia um dia pra acordar mais tarde, passear, ir visitar os amigos e coisas bem tranquilas e deixava o outro pra acordar cedo e curtir muito em um parque, ir pra Universal e tal. 

O que você considera melhor e o que considera pior em sua experiência?

O cansaço físico é definitivamente o pior. E nosso programa é curto, ou seja, quando eu estava finalmente me adaptando as mil horas em pé, carregar coisas e tudo o mais... Acabou e voltei pra minha vida sedentária. Tem horas que você está trabalhando e ainda faltam duas horas e meia pro seu shift (escala de trabalho) acabar e você não sabe nem como ainda está em pé nem como você ainda vai aguentar duas horas e meia E andar do ponto de ônibus até o apartamento.

Não sei se consigo escolher uma coisa melhor haha. Hmm... As pessoas que eu conheci. Os amigos que foram comigo, os que eu conheci no processo e os que eu conheci lá. Todos esses que luto pra manter contato mesmo estando espalhados pelo Brasil e o resto do mundo. Se não fosse pelas pessoas juro que o programa teria sido simplesmente uma péssima ideia de cosplay de Dobby.

Você teve ou propiciou algum Magical Moment? Pode nos contar como foi?

Tiveram dois Magical Moments muito amor, que inclusive postei no Facebook. 
O primeiro foi na minha última semana e eu estava MUITO emotiva com o fim do programa. Eu estava no West Train Cart, um carrinho de vender chapéu na entrada do parque. O Wishes tinha acabado e várias pessoas estavam indo embora, eu estava acenando com uma luva do Mickey e agradecendo as pessoas por fazerem parte da magia com a gente. Ai uma família para na minha frente, todos com os olhos vermelhos de chorar e o pai me diz "Muito obrigado por esse dia tão mágico, a gente nunca esperou que fosse ser assim". Eles sempre dizem pra gente que o trabalho de um Cast Member é criar felicidade e são nesses momentos, nessas pequenas coisas, que a gente percebe o quanto fazemos diferença na vida das pessoas.

Esse segundo é grande, mas foi o melhor Magical Moment que eu tive. E eu ganhei 2 Fanatics (um cartão que as pessoas podem escrever pra você quando você faz algo realmente incrível). Estava na Confectionery e tinha uma mãe com o filho no carrinho, e ele tava chorando e esperneando e cobrindo os olhos com as mãos. Eu e a Amber nos abaixamos e começamos a conversar com ele, mas não adiantava. Ai eu comecei a falar que, se ele parasse de chorar, eu ia dar um presente super mágico e especial pra ele. Nisso ele parou de chorar, mas continuava cobrindo o rosto com as mãos. Ai eu disse que ia pegar o presente dele, mas que só daria se ele tirasse a mão dos olhos pra ver o presente. Corri na registradora e peguei um dos adesivos que a gente tem pra colocar em pacotes, com o Mickey. Fui lá e esperei ele tirar a mão dos olhos, ai expliquei que esse presente era especial porque ele não existia pra vender em lugar nenhum, só nós que tínhamos e o Mickey que dava pra gente. O Mickey também tinha dito pra gente dar pra crianças muito especiais, tipo ele, porque o Mickey não gostava que ninguém ficasse triste na Disney. Ele parou totalmente, pegou o adesivo e ficou olhando pra ele como se fosse a coisa mais incrível do mundo. Quando eu olhei pra cima estavam correndo rios de lágrimas da mãe. Eu me levantei e cheguei perto dela, ai ela me abraçou chorando, dizendo "Você fez meu dia", "Muito obrigada", "Você fez o dia dele". E ela tava super emocionada mesmo. No final estava eu quase chorando junto e o menininho colando o adesivo em cima do coração dele.

Qual a grande lição que você tirou da experiência de trabalhar na Disney?

Nossa... “A” grande lição? A experiência basicamente mudou a minha vida, é bem difícil escolher uma lição. Mas enfim... Eu, assim como a maioria das pessoas que participam do programa, sempre vivi em uma condição financeira boa e nunca tive nem ideia sobre como seria trabalhar com limpeza, trabalhar em serviços e tudo o mais. O programa super colocou isso em perspectiva pra mim. Lá eu tive que tirar lixo, carregar lixo, limpar chão, carregar coisas pesadas de um lado pro outro sozinha, aguentar grito de guests, passar 10 horas quase ininterruptas em pé, sorrindo o tempo inteiro, ser simpática e disney look até quando estava trabalhando com febre. Hoje eu respeito loucamente qualquer pessoa que trabalhe em lojas e restaurantes, porque eu SEI que o trabalho é insano e muito pouco reconhecido. Desde que eu voltei do programa sempre carrego minhas bandejas pro lixo e coloco as mercadorias de volta nos cantos certinhos, também faço um esforço de ser sempre simpática com essas pessoas, bater papo e tornar o dia delas um pouquinho mais fácil. Essa tomada de consciência na sua relação com os outros, sejam eles iguais, “superiores” ou “inferiores” é uma das lições que guardo com mais amor do meu tempo lá.

Ter trabalhado na Disney lhe dá uma visão diferente dos parques? Se você os visitasse hoje, enxergaria com outros olhos?

Nossa, sim! Com certeza. Acho que quando você vai como guest, sem nunca ter trabalhado, você não ter a menor noção da mão de obra ali dentro, da organização, de como tudo é planejado e executado com você em mente. Também têm a questão dos detalhes, eu consigo passar mais de uma hora só descrevendo a Liberty Square, no Magic Kingdom, e é porque é a menor land do parque. Mas eu sei mil histórias e os motivos por trás de cada detalhezinho, do chão aos cheiros. Aprendi a ficar super atenta a todas essas coisas. Por fim, acredito que os Cast Members não parecem com pessoas normais para os guests, estar do outro lado vai mudar completamente minha relação com qualquer CM que eu conheça, assim como mudou minha relação e a maneira como eu vejo todas as pessoas que trabalham em áreas de serviço aqui no Brasil.

Que dica você daria para quem deseja tornar-se um Cast Member?

Deseje isso tanto quando o Pinóquio desejava ser um menino de verdade. A experiência do CEP é cansativa e testa todos os limites que você acreditava que tinha, então não adianta ir só porque quer curtir o passeio. É trabalho e o trabalho é pesado. Além disso... As coisas boas lá têm que ser vividas com intensidade, do primeiro segundo ao último.

Conte-nos alguma situação curiosa ou engraçada que vivenciou durante seu CEP:

Eu trabalhava em lojas então minhas situações engraçadas sempre envolviam os guests. Aconteceu muito de brasileiros não olharem a nametag e passarem o maior tempão tentando se comunicar em inglês e eu sem conseguir adivinhar qual a língua nativa deles. Tinha o jogo de tentar adivinhar a mímica das pessoas que não falavam inglês, nem português. Teve uma vez que estava na Confectionery, atrás do caixa, processando compras, ai vem uma mulher e me pergunta onde ela poderia pagar a água dela. Passei uns 15 segundos olhando pra registradora entre eu e ela, pra registradora do meu lado e lembrando que tinham seis outros caixas funcionando na loja. Depois voltei pro Disney Look, sorri e disse: “aqui mesmo!”.

Estamos chegando ao fim de nossa entrevista, gostaria de deixar algum recado para nossos leitores?

Se vocês tiverem oportunidade de participar do programa, vão. Não atrapalha sua “vida real”, ajuda no seu currículo e é uma experiência que vocês nunca vão esquecer. Não tem nem como começar a explicar o quanto essa experiência mudou minha vida. Estava olhando uns posts meus no Facebook aqui, enquanto escrevia, e vi algo que eu até tinha esquecido que tinha postado. Eu estava falando sobre como a gente sempre fala das coisas grandes, dos Magical Moments e dos dias inesquecíveis e tal, mas que a experiência é muito mais sobre as pequenas coisas. Sobre a rotina que não tem nada de rotineiro, todas as aventuras, os melhores amigos de cinco minutos, as pessoas novas e todas as histórias que você pode ser parte. Todas as histórias que você pode criar. Às vezes me perguntam se conhecer todo o funcionamento do parque não estraga a magia e eu sempre digo que, pelo contrário, não existe nada mais mágico que poder experienciar a Disney em tudo que ela tem pra oferecer.

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